(*Projeto realizado com o apoio do PROAC)
TEXTO 1 :
A exteriorização de um modus vivendi na componente textual do Teatro de Mamulengo. O sumiço do Segismundo, uma experiência de construção de dramaturgia com a Cia. Teatro da Recusa.
Autora: Andréia Previtali
A trajetória que resultou neste texto teve seu início em 2017, quando eu confeccionei o meu primeiro mamulengo para a estreia da Cia. Teatro da Recusa.
O objetivo era, através do teatro de formas animadas, contar de forma lúdica e divertida, as diversas fases da história da formação política brasileira. Desta forma montamos em 2017 “Charivaro, Uma Cidade de Bonecos”, e em 2018 “Segismundo e Geométrica, Uma Cidade de Bonecos”, espetáculos que misturavam diversas técnicas e tamanhos de bonecos, e entre eles, o Mamulengo.
Neste contexto, nasceu Segismundo, boneco confeccionado por mim, inspirado no arquétipo do Simão.
Quando formulei a hipótese de criar um boneco de mamulengo, pensei que poderia unir o tradicional e o contemporâneo, de modo que manteria as características de um personagem da tradição do teatro de bonecos popular brasileiro, mas buscaria outras resoluções com os perfis de pessoas da minha região.
Paralelamente a confecção do Segismundo, confeccionei a Geométrica, inspirada no arquétipo na Rosinha.
Em 2019, deu início outro processo, que seria um espetáculo somente de mamulengo, o que deu origem a peça “O sumiço do Segismundo”.
PESQUISA
Motivada por esta pesquisa, sobre como seria fazer o mamulengo a partir das referências da minha região, fui para São Paulo, onde participei do I Encontro de Teatro de Bonecos Popular Brasileiro, e pude entrevistar alguns mestres e brincantes do mamulengo, e expor a eles este meu anseio.
Em entrevista com Augusto Bonequeiro, ele relata que se uma atriz/ator ou dramaturga (o) decide montar uma peça de teatro de mamulengo, hoje, ela/e só pode buscar as histórias na sua comunidade, para que aquilo realmente faça sentido, seja para quem faz, como para quem assiste.
Então, se fosse escrito uma história de teatro de mamulengo hoje, quem seria a Rosinha, o Simão, o Capitão, o Coronel? Qual o papel e potencial de representatividade dos personagens fantásticos da brincadeira como o Boi e o Diabo para a minha região (Pontal do Paranapanema)? As relações de poder diminuíram no Brasil atual? Como seria um teatro de mamulengo tendo como referência o povo da minha cidade natal e região ?
Ainda neste ano recebi, do mamulengueiro pernambucano, Danilo Cavalcanti, fundador do grupo Mamulengo da Folia, uma orientação para tratar sobre a dramaturgia e encenação da peça “O sumiço do Segismundo”.
Neste momento já tinha um mote e algumas propostas de encenação, passagens, e movimento dos bonecos dentro da barraca. Contudo, com esta orientação consegui ter conhecimento sobre mais entradas, chistes, textos e movimentos próprios do mamulengo tradicional.
CONFECÇÃO DOS BONECOS
Confeccionar o mamulengo no interior de São Paulo tem um problema, que é a inexistência do mulungu, madeira típica para esculpir o boneco. Nesse sentido a técnica utilizada para confecção da fisionomia do Segismundo e da Geométrica, foi massa de papel machê, para a cabeça e mãos, enquanto o corpo um pedaço de madeira de pinus.
Todos os outros bonecos, assim como os trajes, fisionomias, os traços, o volume e as cores, também foram inspirados nas das pessoas da região. Com a ressalva para o respeito a regra dos arquétipos dos personagens do Teatro de Mamulengo Tradicional.
Era a cultura contada a partir de um território. Não fazia sentido copiar ou me apropriar de algo que não fosse a expressão dessas pessoas.
DRAMATURGIA
Em uma linguagem popular, com expressões regionais, a peça traz na trama a lenda do misterioso Vaqueiro Fantasma, que segundo contam, aparece todo ano para levar o boi de maior chifre. Na véspera do carnaval Segismundo, Geométrica, Benedito e o Cabo 70 são surpreendidos pelas desventuras do universo fantástico. Inspirada em histórias de amor e luta do Pontal do Paranapanema, a interlocução entre os bonecos e o público é feita através da música, e ritmos da cultura popular brasileira como o Bumba - Meu – Boi, Xote, Baião, e claro, muito improviso.
Com os olhos no passado e a escuta no presente, para a construção da dramaturgia da peça O sumiço do Segismundo, usei como temas os dramas que escutei de cada pessoa que pude conhecer pela região, através das minhas andanças teatrais, como: as lendas e causos, as festas, conflitos agrários, disputas de poder, o desaparecimento de pessoas, a religiosidade, os espíritos (causos de vida após a morte), os romances e o sonho de liberdade, tudo isso busquei refletir a cada passagem dos bonecos pela barraca.
Com uma classe trabalhadora rural, o Pontal do Paranapanema tem em sua dimensão histórica uma “experiência de organização dos camponeses na luta contra a grilagem” .
A prática da grilagem ocorreu durante a ocupação do território e durou de 1856 a 1932, quando iniciaram as lutas campesinas, que reivindicavam a reforma agrária, tema que até hoje está na boca do povo.
Figura 1 – Cena com os personagens fantásticos, do teatro de bonecos popular, Boi e Vaqueiro Fantasma, no espetáculo O sumiço do Segismundo (2021). Fotografia: Nathália Pardini
Desta forma pude imprimir na componente textual da peça, o que a investigadora Maria Clara de Almeida Lucas, no artigo A criação Individual e o Rito Coletivo, chama de a exteriorização de um modus vivendi. Quando o texto teatral através dos improvisos sofre as alterações para dar espaço a voz do povo daquele lugar.
“(...) existe de início sempre uma criação individual, restando-nos depois da adopção [pela comunidade linguística] um texto que se ritualiza a pouco e pouco e sofre as alterações que a voz do povo lhe vai imprimindo. Simultaneamente a obra individual que se gerou vai-se perdendo na distância e acabará e acabará por desaparecer o seu autor, o que, contudo, não significa que seja ‘anônima’. Aquele texto inicial não passa agora de mero motivo para a exteriorização de um modus vivendi que a coletividade lhe empresta e nos transmite. Isto significa que ela o adotou, e fez dele seu porta-voz!” (Lucas, 1981, p. 107).
Um outro elemento que colocamos na peça, foi o boi, que retiramos da brincadeira do “Bumba - meu - boi”, e o chapéu de fitas coloridas da “Folia de Reis”. Expressões populares que tem um significado de comunicação e de valores contidos na memória coletiva da região.
O que para nossa surpresa, o boi, foi um elementos que ultrapassou as fronteiras das classes sociais, sendo aceito e reconhecido como dispositivo cênico pelas mais diversas idades, “levando à cena os brinquedos, as contradições, costumes e tradições da comunidade” (Santos, 1979, p.34).
Durante as décadas de 40 a 90, a região do Pontal do Paranapanema recebeu uma expressiva migração do nordeste brasileiro. Através da história de algumas pessoas que se fixaram nas cidades ouvi relatos das dificuldades encontradas no trajeto e a adaptação.
Essas pessoas buscavam melhores condições de vida fugindo da seca, da fome e da violência. No interior paulista, trabalharam na lavoura de café, algodão e cana-de-açúcar.
Portanto, a população mais velha traz no seu imaginário popular coletivo, além de manifestações, regionais, memórias das manifestações culturais presentes no Nordeste brasileiro.
CIRCULAÇÃO
A Cia. Teatro da Recusa estreou este espetáculo 2019, e entrou em circulação, com sete apresentações na região do Pontal do Paranapanema, sendo cinco cidades pequenas, e duas em comunidades rurais.
Figura 2 - Cartaz da circulação de estreia do espetáculo. Arte do cartaz: Paulo Brazyl
Nestas apresentações pudemos encontrar o nosso público, e não somente apresentar o teatro de bonecos popular, mas conversar, escutar, essas pessoas, suas vidas e continuar costurando a nossa dramaturgia. Ouvir seus sonhos, rir com eles, e perceber o que fazia sentido para contar uma história a partir de seu lugar.
CONCLUSÃO
Usando a frase de Euclides da Cunha, no livro “Os Sertões”: o nordestino é antes de tudo um forte.
E mesmo com todas as dificuldades econômicas, distâncias geográficas, movimentos migratórios, condições sociais limitantes, movimentos políticos que atuaram com a censura sobre a cultura popular, o mamulengo está presente no interior paulista, se preservou, e a cada ano surgem mais brincantes.
E a nós, fica a cada encontro gerado pelo Teatro de Mamulengo as seguintes perguntas? Quem eram as pessoas que pararam para assistir o Teatro de Bonecos Popular Brasileiro, no Pontal do Paranapanema? Quais cidades davam apoio para este teatro popular enchesse as praças de gente? E por que outras não davam? O que mudava na vida das pessoas, que se divertiam com os mamulengos, nas noites do interior paulista?
Dinâmico, vivo e em constante processo de transformação, este teatro continua a despertar a consciência da coletividade, e acima de tudo fazem do teatro na praça, na escola, nas comunidades rurais uma ação político-social.
Eu, quando brinco o mamulengo, é como se rompesse as barreiras impostas pelo tempo e pelas circunstâncias históricas e políticas. Neta de uma imigrante nordestina, que em 1932, fugindo da seca, deixou a cidade de Santa Maria da Vitória (BA) para com seus pais e irmãos buscarem novas condições de vida no Estado de São Paulo. E que ao chegar no Pontal do Paranapanema, construíram suas casas e famílias.
Minha avó materna, apoiada por seu pai, montou seu terreiro de umbanda e meus tios - avós, mais velhos, foram ser vaqueiros nas terras dos outros poderosos. Para ela (minha avó) o mamulengo chamava mané gostoso.
Por isso, brincar com o mamulengo e contar essa história é falar de mim também.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LUCAS, Maria Clara de Almeida. A criação Individual e o Rito Coletivo. Nova Série, 1981.
SANTOS, Fernando Augusto Gonçalves. Mamulengo: o teatro de bonecos popular do Nordeste. FUNARTE, 1979.
SOBREIRO FILHO, José. (2012). A luta pela terra no Pontal do Paranapanema: História e Atualidade. Geografia em Questão. 5(1), pp. 83-114. https://www.academia.edu/35355912/A_LUTA_PELA_TERRA_NO_PONTAL_DO_PARANAPANEMA_HIST%C3%93RIA_E_ATUALIDADE
Vídeo do documentário produzido pela Cia. Teatro da Recusa durante a pesquisa (2019): https://youtu.be/4OKtlu3LQ5g Acesso em 31/08/2021
TEXTO 2
VOZES DO POVO
Um ensaio sobre a adaptação, o folclore e o popular na temporada de “O sumiço do Segismundo” dentro do projeto “Tem mamulengo? Tem sim sinhô!"
Este é o segundo e último texto do Diário de Bordo, que integra o projeto “Tem Mamulengo? Tem sim sinhô!”, contemplado pelo Programa de Ação Cultural ProAC Editais 32/2021 da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, que tem como objetivo apoiar e patrocinar a preservação e a expansão dos espaços de circulação da produção cultural.
Fazer o teatro de Mamulengo na região do Pontal do Paranapanema, tem sido um processo de adaptação, redescoberta da cultura popular, do teatro popular e do folclore.
Segundo Stanislavski, a partir do livro “A preparação do ator” (2010), a adaptação significa “tanto os meios humanos internos quanto externos, que as pessoas usam para se ajustarem umas às outras, numa variedade de relações (...)”.
Na minha experiência como atriz, e pesquisadora, compreendo a adaptação como um estado psicofísico de prontidão e verdade que eu me coloco frente a cena, a temporada, os diferentes espaços de representação, e o que mais venha afetar o evento/fenômeno/acontecimento teatral.
Ainda citando Stanislavski, no limiar entre a psicologia e a arte, ele relaciona a adaptação com a perejivanie, ou seja, um estado de natureza, uma experiência do ser e de estar no mundo. Uma relação que se cria com as vivências emocionais radicais que causam impacto no desenvolvimento e que alteram trajetórias.
Desde o início desta temporada pensei que a adaptação seria um elemento constante a ser ativado, não só como atriz brincante, mas na relação com os espaços de representação, a organização dos espectadores, a iluminação natural e a iluminação cênica, microfone, etc.
Foram seis apresentações, em espaços diversos, um total aproximado de 700 espectadores, onde o público de cada apresentação reagiu de forma diferente às interpelações dos bonecos, da trama, e do jogo de improviso proposto pelos mamulengos.
Algumas apresentações foram no anfiteatro municipal de Presidente Venceslau, outras em Marabá Paulista, em escola em área urbana, em área rural, em espaço de convivência sociocultural.
O teatro de mamulengo é um teatro de bonecos popular remanescente dos bonifrates, dos títeres, como o Dom Roberto, em Portugal; Dom Cristóbal, na Espanha, A Pulcinella, na Itália, Punch and Judy, na Inglaterra, entre outros teatros de bonecos que falam a partir do seu território.
Para que ele faça sentido, tanto para quem assiste, como para quem faz, é necessário que a dramaturgia seja inspirada em seu contexto social, econômico, político, e cultural.
Como já tratei no primeiro texto, deste diário de bordo, esta região de onde falo vivenciou um ciclo migratório que ocorreu de 1930 a 1990, e que influenciou a economia da região, que se desenvolveu através da produção do algodão, do café, da cana de açúcar e tem ainda hoje o boi (o gado, nome que gosto menos) como elemento de peso na formação das classes econômicas, sociais e culturais.
Em consonância a esta realidade temos na história recente da região, a luta campesina, os efervescentes movimentos pelo direito à reforma agrária.
Enquanto o mundo, a Europa e até alguns países da América Latina, estão a tratar da urbanização e os efeitos predatórios da era da industrialização, o Brasil (o que inclui o Estado de São Paulo) ainda configura-se como uma sociedade rural.
E o que isso tem a ver com teatro ? Tudo. O teatro deve antes qualquer curiosidade ou banalidade falar sobre o seu tempo. Atuar em questões relativas ao seu território. O que isso tem a ver com folclore e cultura popular? Tudo. Pois se falamos em desigualdade entre sociedade urbana e rural, vamos falar de outras formas de percepção e de estar no mundo.
O que é folclore? O que é cultura popular? Podemos considerar invariáveis estes conceitos? Folclore e cultura popular são as mesmas coisas? Folclore é a mesma coisa para todas as pessoas do mundo? Numa sociedade com um índice tão alto de desigualdade social, como é o Brasil, é possível que o folclore seja entendido tal qual como surgiu em Londres, o “folk-lore”?
O termo folclore foi criado pelo pesquisador da cultura europeia, William John Thoms, para significar “conhecimento popular”. A palavra folclore tem suas origens em dois vocábulos saxônicos antigos: “Folk”, que em inglês, significa povo, enquanto “Lore” quer dizer conhecimento.
Seguindo esta concepção o folclore traz a forma que povos de gerações anteriores, tinham as suas percepções de mundo e da vida humana. Suas crenças, seus ritos, suas denúncias, seus valores, seus medos.
Mas, o que acontece em territórios onde as formas de vida rural, o trabalho no corte de cana-de-açúcar, na pesca, na lida com o gado, com a agricultura familiar, as relações de poder no campo, e as relações humanas estabelecidas com a natureza ainda fazem parte do presente?
Existem correntes de pensamento que acham que folclore é tudo aquilo que o homem do povo faz e reproduz como tradição. Para outras, é só uma pequena parte das tradições populares. Para uns, o domínio do que é folclore é tão grande quanto o do que é cultura, ultrapassando as diferenças territoriais geográficas e culturais.
Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo folclore é “a cultura popular tornada normativa pela tradição”.
Nos dias de hoje, nem tudo que o território urbano considera folclore já virou elemento do universo fantástico no território rural. E a pressa para a folclorização da vida rural tem sido uma forma de objetificação da vida no campo.
Nem toda tradição está somente no campo do passado. Nem todos os signos identificados pelo universo folclórico são reconhecidos.
Já, como cultura popular encontra-se um estatuto diferente, que passa a reconhecer as manifestações culturais que problematizam a memória e o tempo que atravessa a nossa modernidade.
Para o investigador John E. Varey (1957), em “Histórias de los Títeres em España” a história de uma arte popular está escrita na memória de um povo e não nos livros dos eruditos.
Em Passos (1999), quando reflete sobre o teatro de bonecos popular em Portugal, e a literatura popular, é possível encontrar indícios de alguma definição sobre a importância da participação dos espectadores através do improviso e sobre os espectadores rurais.
“O professor Viegas Guerreiro em obra de divulgação (Guerreiro 1983 [1ª. Ed. 1978]) define literatura popular “como todos os escritos que passam pelo coração do povo”: “Cabe nela (no nome de literatura popular – Cf. Lucas 1981: 103) toda a matéria literária que o povo entende e de que gosta, de sua autoria ou não” (Guerreiro 1983: 10). O autor, nesta passagem, vai ainda mais longe, incluindo na literatura popular, por exemplo, romances de Júlio Dinis oude Camilo, lidos em voz alta por quem o sabia fazer, em serões da aldeia de onde a sua família era originária, para um auditório, não só atento, mas realmente participativo com os seus comentários.
Quando o Professor Guerreiro fala do povo, subentendo o povo rural, pois, como se viu já, o povo “urbano” está (estaria) desvirtuado no seu gosto, pela maior interferência dos mass-media, entre outros factores. O que não quer dizer que o povo “rural” não vá perdendo o seu apurado e próprio gosto, e se não deixe influenciar, ele também, por fatores idênticos.
Dominado pela irreverência e intenção satírica, o teatro de mamulengo é construído a partir das potencialidades criativas da linguagem verbal e da representação. É um teatro que recusa as fronteiras convencionais do texto dramático e enriquece o espetáculo com constantes interpelações do público e improvisações que reelaboram o espectador no tempo e no espaço.
Numa sociedade ocidental fortemente hierarquizada, é um elemento do contra-poder, que recria novas formas de estar em contato com um espetáculo teatral.
O teatro de mamulengo em sua dramaturgia tradicional propõe a reafirmação da identidade de trabalhadores e trabalhadoras do campo chamados de excluídos, mas portadores de uma prática teatral efetivamente significante para a sua cultura, o seu lazer, as suas crenças e os seus medos. Inclui elementos folclóricos da sua região. Traz para a cena o contexto de trabalho rural, o tempo de festas.
Durante as apresentações de “O sumiço do Segismundo” foi possível ver essa diferença na leitura do signo do boi. Dentro da dramaturgia o boi surge como representação do “Bumba meu boi” (integrante do folclore brasileiro) e como elemento de poder econômico e social da região.
Em uma apresentação que fizemos na área urbana, o boi foi de imediato reconhecido como “Bumba meu boi”. Na primeira aparição do boi na tolda, alguém da plateia gritou “bumba-meu-boi” e foi tão contagiante que em segundos todos os presentes falaram em uníssono “Bumba meu boi, bumba meu (...)”. E só pararam quando o boi saiu de cena.
Já, durante uma apresentação na área rural, o boi não foi reconhecido como Bumba meu boi, mas como um animal, com características cômicas, mas percebido como um elemento do cotidiano. Ouvia-se “olha o boi”, “o boi peida”, “olha o boizinho que bonitinho (...)”.
No primeiro, a cultura não era mais apenas essa coisa de que falamos, que encenamos, que objetificam, mas também esse território a partir do qual falamos.
Inserir o mamulengo neste contexto e dar continuidade a difusão da peça “O sumiço do Segismundo” foi um projeto desafiador tanto para a Cia. Teatro da Recusa, como para a minha trajetória pessoal e artística.
Levar o teatro para lugares afastados do grande acesso à cultura, promover a cidadania cultural, e favorecer a descentralização teatral no Estado de São Paulo, fez -se missão.
Falar do folclore, da cultura popular, da salvaguarda de um patrimônio imaterial brasileiro que existe dentro da componente teatral, sem dúvidas, favoreceu a produção de conhecimento criativo e artístico para todos os envolvidos.
Viva o Teatro de Mamulengo!! Viva os Mestres e Mestras da Cultura Popular!! Viva o teatro de bonecos popular no Pontal do Paranapanema! Tem Mamulengo? Tem sim sinhô!
Autoria: Andréia Previtali, é bacharela em Comunicação Social, tem licenciatura em Música, Mestranda em Teatro pela Universidade de Évora (Portugal), natural do Pontal do Paranapanema, atriz, encenadora, dramaturga, produtora cultura, musicista, e fundadora da Cia. Teatro da Recusa.
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