RELATÓRIO 8
ESTREMOZ: O TEATRO DE BONECOS POPULAR FOI RECONHECIDO EM “MEMÓRIAS”
A força do encantamento presente nas artes de rua, e seu alinhamento com a arquitetura, as formas, as normas, o espaço, os “eus” mais profundos, no Alentejo. Uma experiência potencial relacional do estar presente aqui e agora.
“Memórias” chegou em Estremoz numa quinta-feira, 15 de fevereiro de 2023. Neste momento era a última cidade que integrava o projeto.
Território alentejano percorrido pela investigação "Teatro lambe - lambe, no Alentejo. A arte itinerante e seu potencial dramatúrgico em espaços públicos."
É o voo do artista que convida quem não é artista, a ver a beleza do que ele propõe. Me conectar com tudo o que está à minha volta. É a contramão do mundo. É o caminho do que não é negociável, mas comungado. Não tem preço. Não tem valor de ingresso. Não favorece a lógica do mercado.
O valor e o convite está em sermos humanos e a partir daí nos relacionarmos esteticamente e na dimensão dos sentidos. Um artista que ocupa a rua e trabalha também reflete o tipo de sociedade que construímos e que somos.
A arte de rua é a arte de encruzilhada. Mexe com o que há de mais ancestral, no artista e no espectador. O teatro lambe-lambe é o pequeno no grande. Em segundos a marioneta que é em miniatura toma outras proporções dentro da caixa, e a dramaturgia transforma o ato em teatro.
E é transiente-itinerante porque é rápido, transitório. Em eletricidade, transiente é um surto de tensão elétrica que ocorre num intervalo de tempo muito pequeno.
No teatro de rua, tem sempre alguém que assiste o acontecimento de longe, quem vê o que outros estão a ver. Nesse sentido, não só o artista se inscreve naquele espaço, que ele ocupa, mas o espectador, também se inscreve naquele espaço ao aceitar o convite, o tratado da experiência teatral ali, naquele momento, na rua, o ato poético se faz.
Sempre foi um desejo da construção de “Memórias”, construir uma estética popular através das componentes dramatúrgicas. Há esta proposta na confecção das marionetas, inspirada na técnica de construção de bonecos popular brasileira (boneca de palha de milho). Na encenação, tem um momento que a personagem dança inspirada no passo dos bailinhos e saiadas alentejana, dança presente na encenação do teatro dos Bonecos de Santo Aleixo.
Em Estremoz, no primeiro dia de apresentação, conheci uma senhora alentejana, que após assistir a apresentação disse se lembrar de um teatro parecido; os títeres alentejanos, citou os bonecos da Orada e os Bonecos de Santo Aleixo.
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