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Foto do escritorAndreia Previtali

BEJA: Teatro Lambe Lambe no Alentejo.[1]

Atualizado: 23 de ago. de 2023

RELATÓRIO 5

Cartografia do Afeto


RELATÓRIO 6

Deriva em Beja, baixo Alentejo


Palavras – chave: Cartografia. Deriva. Teatro de Formas Animadas



Era sábado de manhã quando saí de Évora a caminho de Beja. Comprei um bilhete para um autocarro (ônibus) não convencional. No caminho pude observar a diferença na paisagem rural. As vinhas e as pequenas plantações da agricultura familiar.

Perguntei ao motorista do autocarro para onde ficava a Praça da República, ele deu uma orientação bem vaga. Fazia frio. Peguei a caixa - teatro no bagageiro. Que cidade é essa? E pus - me a andar.

Enquanto caminhava e puxava o carrinho contendo a caixa - teatro observava as casas, escolas, instituições, as placas, por ali tudo tinha um aspecto moderno. Cheguei até a Biblioteca Municipal, entrei numa rua estreita com casas típicas alentejanas e continuei caminhando.

Beja das ruas antigas. Dos contos populares, da “Moça encantada dos 7 vestidos”, ou “A Morte, o Cabreiro e o Vento”, e tantas outras histórias, que fazem parte do imaginário popular local. Beja do castelo, das disputas e do desprezo. Beja dos contos de encantamentos.

Atravessei a frente do Teatro Municipal Pax Julia, caminhei por outras ruas estreitas e cheguei até a Praça da República.

Assim que entrei na praça, fui recebida por um artista de rua, que até o momento eu não conhecia, Miguel. Ele tinha perdido uma amiga na noite anterior e de tristeza passou a noite ali na praça. Não conseguia dormir. Miguel, um gajo de trinta e tantos anos, natural de Beja.

Expliquei a ele rapidamente o que eu fazia ali, e o que era a caixa que eu carregava. Definimos o local da apresentação pública, juntos, e ele começou a convidar as pessoas conhecidas que iam passando na praça para assistirem a “Memórias”.

Fiquei ali apresentando a peça por cerca de uma hora e meia, depois desmontei a caixa - teatro, armei o carrinho e voltei caminhando para a rodoviária. Peguei o autocarro das cinco da tarde. Voltei para Évora.

Cheguei na rodoviária de Évora e aluguei um espaço para deixar guardado a caixa - teatro, o suporte e a cadeira. Levei as marionetas comigo na bolsa. Caminhei até a casa.

À noite já comecei a organizar a iconografia e demais materiais gerados durante o dia para a montagem da cartografia (Acesse a cartografia do Afeto aqui no link https://www.andreiaprevitali.com/post/cartografia-do-afeto ).

Para abrir o processo de desenvolvimento da investigação neste dia, eu, enquanto pesquisadora, escolhi encarar a cidade de Beja sem, no contexto de uma metodologia[3], me envolver em buscas deterministas de causa e efeito. Identificar, reconhecer, experimentar e refletir sobre a subjetividade através deste corpo, de mulher e artista ibero-americana[2], que deambula.

Neste sentido, o deambular tratava de uma ação que possibilitou um conhecimento e integração no espaço urbano e no espaço social. Por onde caminhei, empurrando o carrinho com a caixa - teatro, pude gerar mapas mentais-afetivos, e me colocar num estado imanente da criação.

Beja é uma cidade com rastros da presença do tráfico humano e do trabalho escravo contemporâneo, nos campos agrícolas da região; assunto amplamente discutido e denunciado nos meios de comunicação oficial do país. A imigração ilegal de pessoas vindas da Índia, Paquistão e Timor também é um fator visível na cidade, é uma realidade nas ruas. A praça da República, no sábado, estava ocupada por imigrantes de países que não falam a língua portuguesa.

Para a pesquisadora em História da Arte, Thiane Nunes, o espaço público urbano não é neutro, mas nós no cotidiano não percebemos ou enfrentamos esses dispositivos.

As cidades são constituídas por fronteiras invisíveis, portões de costumes intangíveis que demarcam quem vai aonde: bairros, bares e restaurantes, parques, todo o tipo de espaço aparentemente público são reservados para diferentes tipos de pessoas. Ficamos tão acostumadas a isso que dificilmente notamos os valores subjacentes a essas divisões invisíveis, que determinam como circulamos na cidade (NUNES, 2018 p. 3).

O que busquei desenvolver, neste momento da investigação, foram processos afetivos transversais, que permeei ao realizar uma pesquisa, que estava orientada para o uso dessas metodologias e a forma que encontrei para compor essas narrativas e experiências de dimensão pessoal.

Desenvolver essa experiência com o teatro lambe - lambe, e a cidade de Beja, enquanto espaço para as artes de rua, em Portugal, trouxe novas possibilidades para pensar a função das artes de rua, hoje, e do teatro popular de marionetas, na reelaboração do imaginário e da da memória coletiva, no Alentejo, e como isso se relaciona com a minha existência, meu corpo, e com o outro.


Referências bibliográficas


Carlson, Marvin. Teorias do Teatro. São Paulo: Unesp, 1997.


Nunes, Thiane, Em Busca da flâneuse: mulheres que perambulam a cidade. XII Encontro de História da Arte. Arte em Confronto: Embates no campo da História da Arte – ATAS, UNICAMP, 2018.


Passos, Eduardo; Kastrup, Virgínia; Escóssia, Liliana. Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015.


NOTAS

[1] As apresentações públicas compõem o plano anual de processo do projeto de investigação em Artes de Rua – Teatro Lambe Lambe, no Alentejo. A arte itinerante e seu potencial dramatúrgico em espaços públicos, do Concurso 2021 – Programa de Apoio a Projetos – Procedimento Simplificado. Apoio: República Portuguesa – Cultura/ Direção Geral das Artes.

[2]Quando eu me reconheço como artista iberoamericana, eu reconheço o processo de colonização que o meu país (Brasil) viveu, reconheço as heranças e as raízes da colonização portuguesa, e reconheço e identifico características sociais e culturais presentes no espaço público urbano e rural português.

[3] Para saber mais sobre a metodologia usada leia o texto “Artista itinerante: uma unidade de estudo” (link https://www.andreiaprevitali.com/post/teatro-lambe-lambe-no-alentejo-a-arte-itinerante-e-seu-potencial-dramatúrgico-em-espaços-públicos )



RELATÓRIO 7

Cartografia afetiva, uma forma para ampliar a percepção sobre a cidade


Depois da deriva, e de ter percorrido o que chamei de fluxo de afeto, chegou o momento de organizar o material recolhido (fotos, sentidos, memórias, poemas, registros, depoimentos), em forma de cartografia afetiva.

A metodologia da cartografia afetiva tem sido desenvolvida por diversos artistas e pesquisadores, que buscam mapear os territórios e os múltiplos encontros que se dão nele, destacando as dinâmicas sociais, culturais e afetivas.

A construção do mapa afetivo fez com que fosse identificado fragilidades do território, e serviu de ferramenta que possibilitou a transposição de algo imanente, próprio da percepção pessoal, para uma dimensão pública.

Outro ponto positivo na prática da cartografia afetiva, foi o apoio para encontrar-perceber-enxergar o que, ainda, era desconhecido. Mesmo com a experiência (sobre experiência ler o Relatório 1 e o conceito de Larossa Bondía https://www.andreiaprevitali.com/post/teatro-lambe-lambe-no-alentejo-a-arte-itinerante-e-seu-potencial-dramatúrgico-em-espaços-públicos) das apresentações públicas, algumas informações e saberes só foram identificados durante a montagem e leitura do painel visual.

Então a partir deste olhar da perspectiva da deriva e dos sentidos gerados por ela, o teatro lambe-lambe pelo Alentejo, quando chega em Beja encontra outra configuração de cidade. O teatro de bonecos de rua, passa a ter além de uma configuração física e estética, uma função social.

O desenho desta cartografia afetiva e a sua memória, manifestou-se como instrumento de criação.Para esta investigação em artes de rua a cartografia afetiva se destacou como um recurso substancial, para que fosse possível assumir a multissensorialidade dos saberes e assim incorporá-los no estudo.


Local das apresentações públicas de “Memórias”, em 11/02/2023

PRAÇA DA REPÚBLICA, BEJA



Praça da República. “Memórias”. Fonte: A.C.C.V

Localização da Praça da República, Beja, Portugal.


Local das apresentações públicas de “Memórias”, em 12/02/2023

RUA DO INFANTE, BEJA

A partir da deriva iniciada em 10/02/2023, fui afetada pelo itinerário percorrido a realizar as apresentações públicas de “Memórias” em outros lugares, como na RUA DOS INFANTES, e PORTAS DE MÉRTOLA


“Memórias”, na Rua dos Infantes em 12/02/2023

Localização da Rua dos Infantes, Beja, Portugal.

Local das apresentações públicas de “Memórias”, em 13/02/2023

PORTAS DE MÉRTOLA, BEJA


Rua das Portas de Mértola, onde fizemos as duas apresentações públicas de 13/02/2023.

Localização da Rua das Portas de Mértola, Beja, Portugal.


Mapa com a descrição do território ocupado pela pesquisa “Teatro lambe-lambe, no Alentejo. A arte itinerante e seu potencial dramatúrgico em espaços públicos”, Beja.



Ponto de partida: Rodoviária de Beja

Parada 1 para apresentações públicas de “Memórias”: Praça da República.

Parada 2 (...): Rua dos Infantes.

Parada 3 (...): Rua Das Portas de Mértola.

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